Sala e escadas (2º F)

-Você é de que mundo menina? -disse bebendo água.

Sorri mais uma vez, outra rodada imune...

-Eu bebi sem querer por que confundi o copo, isso conta?

-Claro que conta!

- Se namorar um monitor valeu pra mim, beber por engano vale pra você também! - falei rindo.

Estávamos todas rindo até que a Marie bebeu um copo de água e saiu correndo em direção ao banheiro.

Eu tive que rir.
- Acho que agora o jogo acaba, não? O que fazemos agora?

- Hum, podemos falar um pouco sobre nós, trocar experiências! - Falei pegando mais brigadeiro no pote.

- Você tem umas coisas pra contar pra gente, lembra?

-É você começa Luz. -Concordei.

- Ok... - falei olhando para minha colher cheia de brigadeiro. - Vejamos, por onde começo? Vou tentar resumir porque é uma longa história... Ano passado eu ganhei uma bolsa de estudos para um conservatório de música em Portugal, fiquei super feliz, morrendo de medo de ficar longe da família, então fiz minhas malas e fui, sem saber da furada que estava me metendo.

-Hum..continua. -Disse interessada.

- Daí eu cheguei lá e fiquei encantada com o lugar, a cultura totalmente diferente do Brasil, e principalmente o frio, aprendi a fazer todo tipo de bebida misturando chocolate, chás e café, e desenvolvi muito minhas habilidades com piano, violão e violino, tanto que fui indicada para auxiliar um monitor com o piano, e tudo o mais. - respirei fundo. - Daí eu acabei me apaixonando por esse monitor, e começou minha tragédia "shakesperiana"... - falei abaixando a cabeça, me convencendo de que não choraria contando aquela história.

- O que aconteceu exatamente? Ele era um babaca com você ou...?

- Não, Amy, ele era perfeito. - suspirei. - Fiquei mais de dois meses amando em segredo, ele nem desconfiava, fui descobrir que ele sentia o mesmo exatamente três meses depois que cheguei em Portugal... foi em um luau de inverno, todos os professores e alunos iam para a praia cantar e ele me levou para a beira do mar com o violão e se declarou com uma música. - respirei fundo sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. - Eu devia ter dito não, eu devia ter seguido meu medo interior, mas fui dar ouvidos à boba apaixonada que tem dentro de mim e namoramos por nove meses, até que eu tive que voltar para o Brasil.

-Nossa que triste,mais por que tanto ódio dele? -Perguntei curiosa.

- Aí ele era gay?

- Antes fosse, Amy. - falei rindo com a possibilidade. - Eu voltei para o Brasil e continuamos nosso namoro a distância, até porque nunca tínhamos divulgado nada a respeito de estarmos juntos na mídia e tal, ele dizia que por ser famoso, ele era tipo uma estrelinha local de Portugal, nada além disso, não queria comprometer minha privacidade nem expor minha vida à manipulação de revistas de fofoca, essas coisas. - Peguei outra colher de brigadeiro, o doce já estava quase no fim. - Então um belo dia eu saí de casa e fui passear em uma livraria, no setor de revistas importadas, dei de cara com uma que tinha ele e uma mulher na capa, peguei a revista pensando se tratar de um clipe ou qualquer outra coisa assim... - minha voz começou a embargar e eu parei para respirar.

- E aí ele fez uma plastica muito bizarra? E é por isso que ele é feio daquele jeito?

-Me dá essa panela,você vai acabar com o brigadeiro todo,eu heim. -Disse puxando a panela pra perto de mim e pegando o resto de brigadeiro que sobrou.

Não pude deixar de rir do que a Amy disse, foi bom que me fez parar de ter vontade de chorar.
- Na verdade, a revista tinha a cobertura completa do casamento dele. - falei de uma vez antes que faltasse coragem. - Então eu descobri porque ele não queria dizer publicamente que estava comigo e tudo mais, eu não era nada além de uma "outra", a não oficial. Ele me usou durante nove meses, enquanto estava com a outra e planejava casar com ela. Daí veio meu ódio. - concluí.

- Tipo e ele nem te ligou pra explicar nem nada? - Comentei surpresa. - Mas que babaca...

-Ual. -Disse simplesmente pasma com o que ela disse,por essa eu não esperava,tanto é que "Ual" foi a única coisa que consegui dizer naquele momento.

- O pior é que ligou, e continuou a ligar, enviar mensagens, presentes, flores, coisas que eu nem abri. - suspirei. - Tive que mudar o número de celular e criar outra conta de e-mail... - falei amargurada. - Nem a decência de terminar comigo ele teve, e acreditem, quando me viu aqui, ainda teve a audácia de fingir que não sabia porque eu estava ignorando-o.

-AH,É AQUELE GURI?,aquele que você fingiu ignorar no auditório?.