Sala de dança

Tomei um susto com o idiota do meu lado gritando e ele ainda tropeçou em mim e nem se quer olhou pra mim, mas prefiro assim. Não sei oque ele fez ontem mas está com a cara péssima. Hoje definitivamente não é meu dia...

Fiquei tentando pegar no sono outra vez enquanto o professor falava algo sobre a origem do tango na Argentina, mas o "ai" da menina ressoava na minha cabeça. Eu conhecia aquela voz de algum lugar.
Ergui o rosto e olhei para o lado, vencido pela minha curiosidade, só para dar de cara com uma Marie com a testa franzida prestando atenção na aula. Eu não consegui mais desviar os olhos, de repente, não tinha mais sono.
- Er, Marie? - murmurei tentando não ser ouvido pelo professor.
Eu mal conseguia acreditar que não havia me esquecido do nome dela nem depois de toda a ressaca, apoiei a mão no braço dela.
- Me desculpe pelo tropeção, não estou muito bem... - falei sentindo as coisas se revirando no meu estômago.

Nossa, ele lembra do meu rosto, e do meu nome, mesmo estando com essa cara de ressaca. Talvez por isso que ele ainda se lembra, não está no seu estado perfeito ou tão perfeito quanto é possível pra ele.
-Eu percebi! A noite foi boa ontem hein... -tento não fazer parecer uma pergunta nem soar como se eu estivesse puxando assunto sobre a noite dele depois de mim, mas é exatamente isso que faço parecer. Quero sair daqui, quero que o professor chame nossa atenção mas Justin sorri ainda apoiado nos joelhos e me encarando. Ele vai continuar falando...

- Se você considerar bebedeira e um bocado de asneiras ditas por um bando de caras se gabando, sim a noite foi boa. Mas assim que o sol nasceu e a dor de cabeça chegou eu meio que me arrependi da zoeira. - murmurei mantendo uma expressão amigável, se eu tentasse sorrir talvez tivesse que correr para o banheiro. - Daria tudo por um bom analgésico e um café bem forte.

PROFESSOR:

- Formem duplas, camos começar a treinar os passos básicos do tango, vamos, peguem a pessoa a seu lado e fiquem de pé! - ele dizia animado, fingindo não notar que mais da metade dos alunos estavam simplesmente se arrastando.

Retiro o que disse sobre o professor, pra quê isso? Ninguém aguenta ficar em pé, ele sabe ue a festa foi ontem, e não quero "pegar a pessoa do meu lado e ficar de pé" porque teria que aguentar o meu peso e o dele. A gente se encara e eu começo a rir do desespero do menino que só move os olhos em uma expressão de criança que fez bagunça e a mãe descobriu.

Levantei bem receoso de nã me aguentar em pé, mas consegui me erguer e Marie parou de frente para mim.
- Calma, ñão vou vomitar em você. - falei pressentindo os pensamentos dela. - É só não me sacudir demais... - acrescentei segurando o riso, enquanto segurava a cintura dela como o professor indicava. - Vamos fingir acompanhar quando ele não estiver olhando e tentar não chamar muita atenção, faltam só quarenta minutos de aula, acho que a gente sobrevive.

As palavras "vomitar" "quarenta minutos" e "chamar atenção" entram na minha cabeça rodam umas dez vezes e formam uma outra frase, chego a conclusão de que ele tem quarenta minutos para vomitar e chamar o tipo de atenção que eu menos preciso nessa aula. Acho que acabei de fazer uma careta mas em uma coisa ele tem razão: também acho que a gente sobrevive.

Eu realmente devia estar pior do que imaginava, se for levar em conta o jeito que ela me olhava.
Apenas continuei imutando os passos do professor.
- Quem precisa saber dançar tango hoje em dia? - murmurei indignado.

O professor estava tão empolgado com a aula mesmo com todos feito zumbis que me deu pena. Não é possível que ele não tenha reparado que hoje não é o melhor dia da turma. -Isso só pode ser pegadinha! - Digo sorrindo. -Esses vão ser os quarenta minutos mais longos da história.

- Antes fosse pegadinha. - murmurei sorrindo de volta. - Pelo menos esse desastre não está valendo ponto.

Assim que o professor mencionou formar duplas eu puxei Violet pela cintura, antes que algum outro marmanjo oportunista o fizesse.
- Então parece que vamos dançar tango. - comentei rindo do desespero de alguns outros alunos que nem conseguiam levantar do chão. - Olha só, muitos caindo de bêbados. - murmurei sem conseguir segurar o riso. - Se eu estou cansado e me sentindo mal, imagine eles?

- É verdade...então , você por acaso sabe dançar tango? por que eu não faço a menor ideia de como se dança isso! - Disse rindo meio envergonhada, eu sabia dançar muitas coisas, mais tango não é uma delas!

- Acho que é só imitar o professor, por enquanto. - comentei tentando não mostrar o quanto eu era ruim naquilo.
Essas danças típicas sum americanas obviamente também não eram a minha praia.
- Só acho que não faremos nada de útil com "tango" no currículo, já que ninguém aqui vai para a Broadway, o que acha?

-Verdade..acho desnecessário - Ri - Também acho q você vai ter que passar o resto da aula com a mão na minha cintura. - Sorri maliciosa.

- Hum, já que vou precisar aprender tango, tem que ter alguma coisa boa nisso, certo? - falei sorrindo e a puxando para mais perto, esta aula não seria de todo ruim. - Como uma compensação por gastar talento com coisas desnecessárias. - murmurei inclinando o corpo dela para trás, como o professor demonstrava. Nossos rostos ficaram tão próximos que tive vontade de ignorar que estávamos dentro de sala de aula e beijá-la bem ali.

-Nossos rostos ficaram a um centímetro, nossas respirações ficaram ofegantes e..

PROFESSOR:
- Srta.Bass e Sr.Malik!,usem essa energia para o tango! - Ele disse dançando/rebolando e olhando em direção a Violet e Zayn.

Droga, por um minuto eu quase me esqueci que estava em aula.
Se não fosse o bendito professor a chamar nossa atenção na frente de toda a turma.
Fazendo todo mundo olhar para nós.
E me fazendo quase cair com Violet e tudo.
Apenas dei um sorriso cúmplice para ela e me endireitei, continuei os passos que ele dizia, fingindo que nada havia acontecido, e torcendo para todos os outros alunos pararem de olhar para nós o mais rápido possível.
Ouvi até uns murmúrios do tipo: "Tem gente que não perde tempo."
Bando de invejosos.

Eu juro que olhei em volta quando o professor falou para formar duplas, mas Martim foi mais rápido e me puxou pela mão antes que eu pudesse dizer oi para o outro garoto que estava por perto, usando uma touca que cobria os olhos, e parecendo dormir em pé.
- Eu não acho uma boa ideia... - murmurei quando ele chegou mais perto e passou as mãos pela minha cintura, começando a seguir os passos do professor.
Eu estava absolutamente travada.
- Isso realmente não vai dar certo. - murmurei derrotada.

-Por que não daria? - Digo soltando um sorriso. Eu estava quase dormindo quando ouvi a ideia do professor e a puxei involuntariamente, ela foi simpática comigo hoje, mesmo que ela queira começar de novo, seguir em frente e esquecer todos os momentos que nós vivemos juntos estou confiante. -É só imitar o que o professor faz. Tango também não é o meu forte, mas não deve ser tão difícil. Então, amos nos ajudar certo? - Falo em tom sério.

Assenti com a cabeça, aquilo era um tanto mais difícil do que parecia. Eu mal conseguia pensar onde tinha que colocar o pé, e o professor já estava em um giro.
Fora que as mãos de Martim na minha cintura me traziam lembranças desconcertantes, e meu coração disparado não estava ajudando em nada na minha concentração.
- Eu simplesmente sou péssima nisso. - falei num suspiro, desistindo e simplesmente me arrastando, sorte que o professor estava ocupado demais dando bronca em outra dupla.

Ela quer que isso acabe e tenho quase certeza que o problema não é nada relacionado à aula -É só uma aula, e ele nem vai dar notas ou prestar atenção em nós dois, tem outros alunos pra ele se preocupar como os que estão quase se agarrando ali -Disse apontando com a cabeça para um dos casais que o fato de ele já ter chamado a atenção antes foi inútil. -Você nem está indo tão ruim assim, tem gente pior. -Eu sei que o problema não é a aula, mas se ela quer que seja então tenho que acabar com esse problema inexistente primeiro, até por que se ela realmente quer que sejamos indiferentes a tudo que aconteceu preciso fazer ela relevar tudo aquilo e entender o por quê estivemos juntos um dia.

Respirei fundo e continuei com aquilo até a aula terminar, o tempo se arrastou e praticamente corri para o ponto mais distante dele no instante em que o professor anunciou o fim da aula, saindo da sala em direção à próxima aula, tudo aquilo em fez até perder a vontade de lanchar.
Martim vinha tirando minha fome desde o ano passado, contatei com um suspiro enquanto caminhava pelos corredores em busca da sala certa para a próxima aula.