Quarto do Ben e do Sam

Estava tudo tão bom até o sinal sonoro de "atem os cintos pois vamos aterrissar" do avião tocar me acordando bem no meio do meu melhor sonho. Normalmente, dormir num avião sempre me garantiu sonhos muito bons, mas aquele tinha se superado.
No caminho até a The Best eu pensei em vários desfechos prováveis para o meu sonho interrompido, xingando mentalmente a maldita voz que o interrompeu, tanto que quando dei por mim já estava entrando na porta do quarto do alojamento com o meu nome e o de um tal de Ben, dando de cara com um garoto jogado em uma das camas, com os sapatos imundos bem em cima do lençol, olhando para o teto com cara de paisagem.
Com a sorte que tenho eu já devia esperar algo assim, vou dividir o quarto com um porcalhão, mereço. Tinha um casaco que parecia nunca ter sido lavado jogado em cima da outra cama, e uma mala parcialmente aberta na frente do armário com coisas pulando para fora.
- Boa tarde, cara. - falei jogando minha mala pesadamente no chão, e tirando o casaco dele de cima da minha cama. - Pode voltar a admirar a poeira de cima do ventilador de teto, só estou avisando que cheguei. - falei quando ele olhou para mim parecendo assustado com a minha beleza, certamente ele pensava em como seria difícil conseguir uma gata comigo por perto, ainda mais para um cara que sobe na cama usando tênis.

Eu fiz uma careta, mas depois acabei me dobrando de tanto rir.
- Que tipo de cara fica reparando no cabelo dos outros caras? - perguntei sacudindo a cabeça. - Não me diga que você joga no "outro time"? - me arrependi da pergunta assim que a fiz, gays normalmente não eram tão porcos. - Sério, eu nem tinha reparado que você tinha cabelo, foi mal, não quis ofender. - completei pegando minhas coisas na mala e começando a guardar na metade do armário que não estava ocupada por uma mala parcialmente aberta, eu tentava não olhar, mas aqueles pés calçados sobre o lençol ainda estavam me tirando do sério.
- Aliás, muito injusto não permitirem animais de estimação aqui, eu ia gostar de trazer minha gata.

Não sei porque eu ri daquilo.
- Será que dá pra você tirar esses sapatos sujo de cima da cama de uma vez? - não me aguentei e tive que falar. - O "gay" aqui não gosta de sujeira. - ironizei enquanto continuava a colocar minhas roupas separadas por cores e tipos nas gavetas e cabides.

Terminei de colocar as últimas coisas no guarda-roupa e levantei também.
- Certo, vou com você. Preciso encontrar um lugar pra comer, estou varado de fome. - Falei colocando a carteira num bolso e o celular no outro.

- Pode ser. - dei de ombros. - Podemos ter sorte e conhecer algumas garotas pelo caminho.
A expectativa me deixou mais animado com a caminhada, apesar do estômago em estado de vácuo se revirando só com o lanche miserento do avião desde ontem.