Vista do Grand Cannion

A trilha para o mirante não era muito difícil, mas não me impediu de oferecer bem mais ajuda que o necessário à Amy em todo o caminho, qualquer pedra no chão se tornou um motivo para que eu quase a pegasse no colo, de modo que quando chegamos já estávamos de mãos dadas. Não sei se ela percebeu, mas parecia não se importar. Trocamos poucas palavras, coisas vagas sobre como as tais das sequoias eram realmente altas e afins. Não queria começar a falar sobre o fato dela me deixar maluco no meio do caminho.
- Parece que chegamos. - suspirei enquanto caminhávamos pelo local, encostei no guarda-corpo e fiquei de frente para ela. - Aqui é realmente alto... - murmurei olhando em volta.

- Amy... - murmurei procurando as palavras na minha cabeça. - Eu preciso que você esclareça algumas coisas. - franzi a testa chateado comigo mesmo por nunca conseguir ir direto ao ponto.
Ali, de frente para ela, eu só conseguia pensar em acabar com aquela pequena distância de uma vez, deixa-la tão mínima a ponto de que nada pudesse se colocar entre nós.
Respirei fundo e dei um passo para frente, deslizei os dedos pelo braço dela, num gesto que pareceu até fraternal.
Como tudo sempre parecia.
- Eu preciso saber se você já sabe como se sente, quer dizer, já faz um tempão que você sabe como eu me sinto, e cada dia vem ficando mais difícil estar com você e criar expectativas... - ela me olhava atenta, o que me encorajou a continuar. - Só me diz se eu devo parar de ter expectativas, por favor.
Encostei minha testa à dela, aquele desabafo me deixou mais leve, mas ao mesmo tempo me senti um tanto pesado, como depois de uma apresentação que a gente sente o alívio de ter conseguido, mas o cansaço de tudo que precisou ser feito cai sobre nossas costas.

Eu sentia meu coração aos pulos, era verdade.
De certa forma eu sabia que seria daquele jeito, não tinha como ela não gostar de mim, não depois de tudo.
A parte da minha consciência onde antes havia certo medo foi tomada por uma outra sensação no momento em que ela uniu seus lábios aos meus, fazendo o que eu estava com vontade de fazer desde que entramos naquele ônibus hoje pela manhã.
Meu sorriso provavelmente estava muito maior que o necessário, e eu ainda julgava pouco.
- Todos os dias, Amy, vou te beijar todos os dias, como você quiser, até quando você me quiser. - falei erguendo o rosto dela pelo queixo.
Nossos olhares se chocaram enquanto eu a abraçava e a puxava para mais perto, desta vez para um beijo mais longo, ainda assim calmo, como seriam os dias dali em diante, com ela a meu lado.