Trilhas pela floresta

Já havia terminado de almoçar, mas continuei no refeitório conversando com a Lilly sobre a palestra que acabamos de ouvir mesmo após o anúncio de que estávamos liberados para conhecer o lugar.
Eu não estava muito segura de andar por aí sozinha, então estava esperando que as meninas decidissem por onde começar o "passeio", para segui-las até a hora de voltar, eu estava com a minha câmera e coçando para tirar muitas fotos do parque.
Quando meu celular vibrou no meu bolso, peguei despreocupadamente, mas não consegui conter um pequeno sorriso ao ver o remetente. Disfarçadamente, me distanciei do grupo e saí do refeitório, senti os olhos de Martim me seguindo até o lado de fora, então circulei o chalé na direção do banheiro feminino para despistá-lo.
Aquilo estava ficando muito perigoso, Ian era impulsivo demais e eu não conseguia me afastar, não conseguia agir racionalmente nem quando ele fazia coisas loucas como sair de Los Angeles e se infiltrar num evento da minha turma para o qual ele não foi convocado.
Qual era o problema em um pouco de discrição? Estávamos cercados por alunos, monitores e professores, mas ainda assim, eu me esgueirei até o local onde ele falou que estava me esperando, tentando não demonstrar meu nervosismo nem o quanto meu coração estava disparado, olhei em volta mas não conseguia encontrá-lo, até que senti suas mãos em minha cintura e o calor de seu corpo em minhas costas enquanto beijava meu rosto e me fazia ficar arrepiada com aquela respiração em meu ouvido.
- Eu nem vou perguntar o que você está fazendo aqui... - murmurei inegavelmente contente pela presença dele. - Porque mesmo sendo totalmente imprudente da sua parte, estou feliz que veio.

Mesmo tendo deixado de lado toda minha dignidade, eu tentava não deixar tão evidente o quanto ele mexia comigo.
- O problema não é você ser visto no parque. - murmurei sentindo os pelos do meu braço se arrepiarem com os beijos dele, e seu halito quente em meu pescoço. - Mas sermos vistos juntos, como agora, por exemplo, como você explicaria isso?
Me virei de frente para ele, e me vi perigosamente perto de seu rosto, involuntariamente dei um pequeno passo para trás, abaixei a cabeça um pouco envergonhada, eu sempre acabava sendo uma boba retraída, e me condenava por aquilo. Segurei suas mãos e as beijei, era minha forma de dizer que não me afastava de propósito.
- Já que você está aqui, vamos simplesmente torcer para que ninguém resolva perambular por estes lados. - comentei meneando a cabeça e sorrindo.

Ri do fato dele já saber tanto sobre mim, eu devia ser mesmo bastante óbvia.
- Estou com a câmera sim, acha mesmo que eu viria a um lugar como estes sem ela? - retruquei ainda com a sensação boa do beijo dele sobre meus lábios. - Mas acho que você não veio até aqui pra me ver tirar fotos de plantas e insetos.

Sorri e contornei seu rosto com a ponta dos dedos.
- Eu não vou a lugar algum... - murmurei um pouco envergonhada. - Porque não tenho a menor vontade de fazer qualquer outra coisa com você por perto.
Meus joelhos já estavam moles, como sempre ficava na presença dele, eu me sentia tão imatura que chegava doer.
O que alguém como ele via de bom em passar o tempo com uma pessoa como eu ainda era um mistério.